“Nunca, em um milhão de anos, pensei que isso estivesse acontecendo lá”, disse Rosa. “Fiquei horrorizado.”

Rosa pediu que sua identidade permanecesse privada por medo de repercussões.

Ela é um dos vários residentes que disseram à BBC que o incidente abalou a comunidade do Bronx e levantou preocupações mais amplas sobre a batalha do bairro contra a epidemia de opiáceos.

“O incidente é atroz e trágico”, disse Eric Dinowitz, membro do Conselho Municipal de Nova Iorque, cujo distrito abrange o bairro da creche.

A creche Divino Niño está localizada em Kingsbridge Heights, uma comunidade predominantemente hispânica e latina situada no noroeste do Bronx.

Dinowitz e outros que cresceram na região dizem que a comunidade – e o Bronx como um todo – há muito enfrenta problemas de tráfico de drogas, falta de moradia e subinvestimento.

Em 2021, 27% da população de Kingsbridge Heights vivia na pobreza, em comparação com 18% de todos os residentes da cidade de Nova Iorque, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Nova Iorque. Os residentes do Bronx também tiveram a maior taxa de mortes por overdose de drogas entre todos os bairros da cidade de Nova York naquele ano.

Israel Sterling, residente em Kingsbridge Heights, disse que as condições na área pioraram desde a pandemia de Covid-19.

Ele disse que ficou horrorizado ao saber do incidente com fentanil na creche – mas não totalmente surpreso.

“É triste que o menino tenha perdido a vida, mas isso é uma coisa cotidiana”, disse ele.

“Ninguém esperaria isso, mas vivemos em favelas”, acrescentou.

Rosa disse que os traficantes locais a alertaram para não abrir sua creche a apenas três quarteirões do Divino Niño em 2017, porque disseram que isso impediria seus próprios negócios.

“Eles disseram que é aqui que as pessoas vendem drogas”, disse ela.

Confrontada com opções de emprego limitadas, Rosa decidiu levar adiante os seus planos para a creche, ansiosa por prestar um serviço para crianças com necessidades especiais numa área onde as opções de alta qualidade eram limitadas.

Ela e outros residentes da área argumentaram que as autoridades municipais deveriam ter realizado inspeções mais completas nas instalações de acolhimento de crianças para evitar tal tragédia.

“Se houvesse regulamentações mais rígidas e mais inspeções e coisas assim, acho que isso nunca teria acontecido”, disse ela.

Os inspetores realizaram uma visita surpresa ao Divino Niño apenas uma semana antes de as crianças serem envenenadas – e não encontraram violações.

Os investigadores disseram mais tarde que encontraram uma grande quantidade de fentanil, outras drogas e apetrechos escondidos sob um alçapão na creche.

Dinowitz disse que parecia que as autoridades municipais realizaram um trabalho minucioso. “Estamos agora pedindo aos inspetores que levantem as tábuas do piso e procurem por alçapões?” ele perguntou.

Ele e outros membros da comunidade argumentaram que deveriam ser tomadas medidas mais amplas para resolver a crise de opiáceos da comunidade e os factores subjacentes que contribuíram para ela.

Os vereadores da cidade de Nova Iorque pressionaram por uma série de medidas para enfrentar a crise dos opiáceos, incluindo programas de troca de seringas e a exigência de que as escolas tenham à mão o medicamento para overdose Narcan, disse ele.

Dentro da comunidade, grupos locais têm tentado abordar as questões dos sem-abrigo e da fome, disse Carmen, funcionária da Igreja Fordham Manor, a poucos quarteirões da creche Divino Niño.

Mas o governo precisa de investir mais recursos, como educação, desenvolvimento de mão-de-obra e centros comunitários, para combater os problemas crescentes de pobreza e tráfico de drogas nos bairros do Bronx, argumentou Dinowitz.

“Não se trata apenas de procurar drogas”, disse ele. “Trata-se de investimento em uma comunidade.”

“A morte de um bebê não deveria ser o alerta de que precisamos para levar esses problemas a sério”, acrescentou.