Corre, a barragem estourou! Corre todo mundo!”. Os gritos de Paula Geralda Alves e a buzina da pequena moto dela, apelidada carinhosamente de Berenice, foram a sirene que não tocou em Mariana (MG), quando a barragem da Samarco – de propriedade da Vale e da anglo-australiana BHP – se rompeu em 2015.

Ao saber do desastre em primeira mão por uma frequência de rádio de um veículo da Samarco, Paula arriscou a vida para avisar a população de Bento Rodrigues. Em vez de correr para cima de um morro e se proteger, subiu na moto e desceu até o povoado, que ficava a menos de 6 km da barragem de Fundão.

A estrutura que armazenava rejeitos das minas da região não era equipada com sirenes de alerta. Só o som avassalador de árvores se rompendo seria ouvido segundos antes de Bento Rodrigues ser engolida pela lama.

Mas os gritos de Paula salvaram as cerca de 400 pessoas que moravam no povoado e que correram em desespero para um local seguro após o alerta. 19 pessoas morreram, mas o número de vítimas poderia ter sido muito maior.

Pelo menos 270 pessoas morreram e 8 continuam desaparecidas nesta que está entre as piores tragédias da história em acidentes com barragens.

Mais uma vez aconteceu um crime e dessa vez foi pior ainda, porque foi uma tragédia humana. Pensei que Mariana serviria de alerta, pensei que aprenderiam a lição”, disse Paula Geralda

casa destruída em Bento Rodrigues

Como Paula salvou a cidade

Em 2015, Paula Geralda trabalhava para a Brandt Meio Ambiente, empresa contratada pela Samarco para fazer o reflorestamento de áreas desmatadas pela operação com minas.

Às 16:45 do dia 5 de novembro, ela estava plantando mudas numa área próxima da barragem de Fundão quando começou a ouvir um som estranho, que parecia soar cada vez mais alto e próximo.

“Parecia barulho de avião, onda do mar, helicóptero… Tudo junto. Era o impacto da lama destruindo tudo. Ela vinha igual a um monstro acabando com o que tinha pela frente.”

Em busca de informações, o técnico de segurança da Brandt ligou o rádio de uma caminhonete de apoio da Samarco. Na frequência 4, usada para comunicações internas, veio a pior notícia possível naquelas circunstâncias: a barragem de

Fundão acabara de se romper.

Paula não pensou duas vezes. “Tenho que avisar o meu povo.” Em vez de correr para cima de um morro próximo, onde haveria uma área segura, ela subiu na moto e saiu em disparada com direção ao subdistrito de Bento Rodrigues – na rota da lama.

Paula ao lado de um vizinho

Os colegas de Paula gritaram desesperados para que ela voltasse. De onde estavam, era possível enxergar o tsunami de rejeitos descendo numa velocidade assustadora. Mas Paula ignorou os chamados, atravessou uma pequena ponte – que poucos minutos depois seria derrubada pela onda de lama – e chegou a Bento Rodrigues.

Lá, usou voz e buzina para alertar a comunidade. “Foge todo mundo! A barragem rompeu. Corre todo mundo.”

O que se viu em seguida foi um corre-corre de pessoas desesperadas, mas também muita solidariedade. “Os mais velhos eram ajudados pelos mais novos. Quem não conseguia andar era carregado”, conta Paula.

O filho dela, na época com 5 anos de idade, estava em casa com os avós. Paula avisou a família e continuou o trajeto de moto pela cidade, tentando alertar o maior número possível de pessoas.

Rapidamente, centenas de moradores subiram para a área mais alta da região. Lá, Paula reencontrou o filho e os pais. Do topo do morro, era possível ver a lama avançando. Casas, carros e árvores tombavam como se fossem de brinquedo.

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